Tuesday, February 24, 2009

Terça-Feira diferente

Hoje, dia de Carnaval, lembrei-me tantas, tantas vezes de quando me mascarava quando era pequeno. E de quais as personagens que encarnava - de palhaço, de cowboy, de índio (para compensar:) e lembro-me, sobretudo, da de Zorro. Mascarava-me porque todas as outras crianças o faziam. Não estava particularmente interessado em viver aventuras diferentes por um dia através dos personagens, mas divertia-me muito na escola com os colegas. E quando o dia coincidia com o meu aniversário, sentia que tinha-me saído o jackpot! Ia tudo para minha casa para a festa e aí é que era a grande diversão, para pânico dos meus pais :) (tinham medo que se sujasse muito a casa ou que se partisse qualquer coisa :).
Depois cresci, passei ou a não achar muita piada ao Carnaval ou mesmo a rejeitá-lo e já há muitos, muitos, muitos anos que não significa mais para mim que outro feriado. Só tenho de ter cuidado para evitar os balões de àgua, os ovos estragados e as lâmpadas (sim, há uns anos atiraram-me com uma e quase me acertavam). Posso sempre lembrar-me dos fatos e máscaras que vestia, sobretudo nas conversas com outros, mas nada que se compare ao que me aconteceu hoje.

Ainda não há muitos meses estive com um ataque de saudades e fui visitar todas as fotografias que a minha Mãe tem guardadas da família. Centrei-me naquelas onde eu figurava quando era criança e jovem adolescente – que, das minhas, são quase todas – e lembro-me que a fotografia que mais me prendeu e me tocou foi aquela em que estou mascarado de Zorro no Carnaval de 1986, no meio da Praça do Bocage (quando ainda tinha relva). Sei que era 1986 porque por trás de mim, ao longe, está uma faixa de campanha eleitoral com “Soares É Fixe” escrito. Eu estava com o ar um pouco envergonhado, a máscara a incomodar-me nos olhos e a fazer um gesto com a espada claramente a pedido da família. Apesar do ar embaraçado porque era de pose, não acredito que me sentisse assim no resto do dia – era verdadeiramente, e sem reticências, um dia alegre e de alegria.
E vi naquela criança alguém muito sensível, um pouco danificado e precioso. Daqueles meninos que as senhoras têm vontade de ir abraçar, porque parecem muito queridos. A minha Mãe era muito assim comigo.
A fantasia do Zorro, o centro da cidade diferente, o “Soares É Fixe”, a sensação da família do lado de lá da câmara fotográfica, olhando na mesma direcção. Transportam-me, mais que para outra época, para outras emoções e sentimentos que a memória resolveu esconder num canto mais ou menos escuro.
Hoje pensei novamente nessa foto.

Não sei porque é que me lembrei destas coisas e porque lhes estou a dar esta importância. Eu, que tento sempre psicanalizar tudo, e sempre com pelo menos algum sucesso. Será dos meu aniversário estar quase aí, e de não ter vontade de acrescentar mais um ano à idade? E de ter saudades da simplicidade de várias das coisas na infância, e de sentir que estou neste mundo adulto ainda com as forças de uma criança?
Será de tudo isto? Ou de nada disto? Ou de outras coisas, talvez mais prosaicas?

Não sei dizer. Mas que foi um dia bem diferente do habitual para o meu Eu interior, isso foi.

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