Podia falar da crise, do frio, das gripes, etc. mas se não estivessem lá, se as coisas até estivessem bem "lá fora", sentiria relativamente o mesmo. Assim apenas há menos espaço para mim no meio de tudo, como se todos se sentissem um pouco deprimidos por causa do ambiente social e eu fosse mais um.
Mas essas coisas são sobretudo aceleradores, aumentam a velocidade e intensidade do que já lá está. Eu ouço e leio sobre tudo isso.
E também ouço as conversas e todo o tipo de preocupações correntes das pessoas no trabalho, nos transportes, na rua, que passam ao lado da crise geral e se focam mais na crise pessoal, na forma como podem ser felizes e lidar com o quotidiano de modo a concretizarem o que desejam. Mas sinto-me sempre longe. Para começar com essas preocupações, primeiro teria de resolver muito da minha vida que não posso. E quando vejo alguém quase chorar por causa do/a namorado/a, exaltar-se e afligir-se por coisas que sinto serem menores em relação ao que tenho de suportar (mas que fazem parte da vida normal da média das pessoas), apetece-me gritar. Até porque quem está a ouvir compreende essas situações, naturalmente, mas se eu lhes contasse do que me vai na alma e preciso e me perturba, sentiriam distanciamento, apesar de serem coisas mais importantes. Mas como a maioria não sente essa falta, não liga tanto. E assim sinto que os outros são mimados em comparação. Parece arrogante mas é o que sinto, assim mesmo. Sinto inveja mas também desprezo. Acima de tudo, sinto-me longe.
Eles vivem a sua vida assim porque podem e eu também queria poder. E não poder custa muito, deixa-me para trás e é muito injusto. Em tempos, por isto, esta vontade frustrada, agi mal para muita gente, por isso os perdi. Porque podemos sentir que os outros são mimados, sentir inveja e desprezo, mas mesmo assim gostar muito deles e querer ser seu amigo e manter a amizade.
E depois também não suporto tanta parvoíce pegada. E quero fugir disso mas mais uma vez não tenho poder para isso. E se fujo da parvoíce no trabalho e na rua, só começo a preocupar-me a sério quando penso na que vou encontrar em casa e na melhor forma de a evitar. Não sou valorizado pelos outros como mereço e a culpa não é só minha.
Esta auto-comiseração é tudo o que não gosto de ver na atitude, na filosofia de vida de uma pessoa. Por isso tudo se torna ainda mais frustrante e humilhante. Levantar-me da cama é uma luta, como são todas as pequenas coisas - saber que tenho de ir ao Banco, ou tirar fotografias, ou tratar do Cartão de Cidadão... saber que tenho de fazer qualquer coisa dá cabo de mim de uma forma que não é normal. Também queria comprar uma camisola e uns sapatos novos nos saldos mas ainda não fui e nem sei se vou, não tenho vontade de pensar nisso. Só quero ficar fechado no meu quarto, estar na internet e ver televisão e aproveitar esse tempo para não me preocupar com o resto.
Não imaginava que estas fossem ser as "vontades" que teria por esta altura da vida quando era mais novo. Ninguém o faz. E entristecem-me. Mas eu estou muito longe...
Sinto que está tudo à minha volta a ficar louco de tão insuportável. Como sentirão as pessoas que vivem em países com ditaduras rígidas e sem expectativas de mudança, que não têm liberdade nem decisão sobre as suas vidas porque não podem, querem muito mas é como se tivessem uma bota gigante a pisar-lhes constantemente a cara.
Thursday, January 08, 2009
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
2 comments:
faz bem desabafar...
beijinhos
As coisas não são lineares como se calhar vou parecer... Apenas digo: tenta mudar alguma coisa que ainda seja possivel...
Post a Comment