Friday, January 23, 2009

Sinto vergonha

Não gosto de ser tratado com condescendência e pouco valor. Detesto não conseguir dar-me com os outros, não ter maior proximidade com as pessoas, não ter uma vida social. Fico desesperado por alguma interacção, mesmo que negativa, é melhor que nenhuma interacção.

E quem não tem culpa, por causa de mal-entendidos e muita precipitação minha, depois leva por tabela. As poucas pessoas que me ligam algum.

Não me consigo aproximar dos outros e afasto quem, no mínimo, não me ignora. A história repete-se.

Nunca conseguirei estar bem, socialmente. Nunca. Sempre foi assim e por isso estou como estou. Estou preso. Tenho muita culpa mas não sou só eu. Houve certas alturas na vida em que teria de ser muito corajoso e sofrer durante um bom bocado, mas podia ter saído disto. Agora...

A minha vida sempre esteve alienada de mim.

A minha vida é arrastar-me.

Wednesday, January 21, 2009

Gosto muito desta música

Muito, muito. E acho que esta versão ao vivo fica melhor que aquela do álbum.



"My Girls", do álbum "Merriweather Post Pavilion", Animal Collective, 2009

Is it much to admit I need
A solid soul and the blood I bleed
With a little girl, and by my spouse
I only want a proper house

I don't care for fancy things
Or to take part in a precious race
And children cry for the one who has
A real big heart and a father's grace

I don't mean to seem like I care about material things like a social status
I just want four walls and adobe slabs for the girl

A corrente mais forte


"É como se a minha vida fosse magicamente comandada por duas correntes eléctricas: alegre positiva e desesperada negativa — a que estiver em acção no momento domina a minha vida, inunda-a. Agora estou inundada de desespero, quase histeria, como se estivesse a sufocar. Como se uma grande coruja musculada estivesse sentada no meu peito, as suas garras apertando e comprimindo o meu coração."

Sylvia Plath, in "The Unabridged Journals of Sylvia Plath, 1950-1962 (edited by Karen V. Kukil)" (não li o livro)

(tradução minha)

Monday, January 19, 2009

Motivação na criação


"Ninguém alguma vez escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu ou inventou senão para sair do inferno."

Antonin Artaud, in "Van Gogh, o suicidado da sociedade" (não li o livro)

Sunday, January 18, 2009

Viver mal os problemas

"Muitas vezes, tememos o sofrimento e evitamos os problemas a qualquer custo mas, na realidade, o mal não é que existam problemas. Viver mal os problemas é que é o mal."

Laurinda Alves


Eu sei :(

Laranjina C

Este filme é muito estranho e muito intrigante



"INLAND EMPIRE", David Lynch, 2006

Os filmes de David Lynch costumam ser assim, mas neste sentimos o tapete sair debaixo dos nossos pés mais vezes que o normal para o realizador em apreço.
Vai requerer mais uns quantos visionamentos se eu o quiser "apanhar".

(E a banda-sonora é mais uma vez uma surpresa e uma delícia)

Saturday, January 17, 2009

É tudo muito injusto nesta vida. Escapa-se tudo o que é importante por entre os meus dedos.
Estive durante muito tempo - enquanto crescia e me assimilava na adultez - só a um passo daquilo que precisava em determinada fase, mas nunca tive o que era necessário para o dar. Ou quando o dava (finalmente!) já era um pouco tarde e tinha de fazer ajustes que deixavam marcas. Nunca fui assim por falta de vontade mas por falta de poder. E com o avançar da vida tudo se torna mais difícil.

E como podia ter sido tudo evitado... nunca me faltou nada, materialmente. Mas sinto que faltou tudo o resto (meus pais - cada um à sua maneira, de costas voltadas um para o outro -, tão bem-avontadados, tão ingénuos, tão negligentes, tanto e tanto mal provocaram!!).
Sempre foi o cabo dos trabalhos interagir com os outros. Sentia-me melhor estando só, comigo e com as minhas coisas, não porque gostava, mas pelo mal-estar horrível que evitava sentir. E porque poucos frutos me trazia. Porque ninguém tem interesse numa pessoa entediante. Não porque eu quisesse ser assim - era a última coisa que queria - mas porque pouco tinha para dar. E só teriam sido necessários alguns (pouquíssimos e certeiros) passos para tudo isto mudar... porque a única e mais importante coisa que queria (e também a que mais me afligia) era ter bons amigos...
O meu estilo e experiências de vida sempre foram muito diferentes dos outros. Se ao menos eu tivesse um talento, qualquer, em que pudesse exprimir este mal-estar...talvez aí conseguisse chegar a alguém... mas acho que não nasci para ser artista. É uma coisa que se tem ou não se tem dentro de si. E se o tivesse, já tinha de começar a ser desenvolvido há muito... (como eu queria ser actor quando tinha 16 anos, como me desencorajaram e me fizeram ter medo e duvidar de mim...)

Escrevo isto no passado mas podia escrever no presente.

Às vezes, só me apetece partir tudo. Sobretudo quando estou mais calado, distante e imóvel, quando pareço mais inofensivo.

Vejo tanta gente que não é melhor que eu EM NADA a sair-se muito melhor na vida... e só me faltaram alguns passos para também ser assim... quem olha para mim, fala comigo e conhece os aspectos mais imediatos da minha vida, fica com uma ideia tão errada de quem sou, cá dentro... estou farto de me darem tão pouco valor, não mereço...

(Lá estou eu, só queixas mais queixas. Quanto eu detesto ser assim, quanto eu detesto as pessoas que são assim!!!)
Solidão

Ó solidão! À noite, quando, estranho,
Vagueio sem destino, pelas ruas,
O mar todo é de pedra... E continuas.
Todo o vento é poeira... E continuas.
A Lua, fria, pesa... E continuas.
Uma hora passa e outra... E continuas.
Nas minhas mãos vazias continuas,
No meu sexo indomável continuas,
Na minha branca insónia continuas,
Paro como quem foge. E continuas.
Chamo por toda a gente. E continuas.
Ninguém me ouve. Ninguém! E continuas.
Invento um verso... E rasgo-o. E continuas.
Eterna, continuas... Mas sei por fim que sou do teu tamanho!

Pedro Homem de Mello, in "O Rapaz da Camisola Verde"

Friday, January 16, 2009

O meu primeiro computador


Sinclair ZX Spectrum 48k


Lembro-me das teclas de borracha e do plástico à volta a saltar. Também de que era preciso um transformador e um gravador de cassetes (que já foi para o lixo).
Os jogos demoravam 5 minutos (ou mais) a carregar e tinham de aparecer os risquinhos à volta da imagem, senão era sinal de que não estava a ler bem.
A cozinha ficava toda cheia de fios (para desagrado da minha coitada mãe!), porque era na televisão da cozinha que jogava e que, por vezes, passei dias inteiros.
Ainda me lembro do meu pai montar pela 1ª vez o computador na televisão da sala - talvez em 1983 - e eu em pulgas para jogar ao jogo de futebol que ele também tinha comprado.

Estas coisas fazem-me lembrar uma outra época, mais inocente, irresponsável e mais feliz.

Apetece-me teclar LOAD "", ENTER...

(Um)A diferença entre as mulheres e os homens

Hoje,

abraçei a minha Mãe durante um bom bocado. Soube-me bem.


(Ela não vai estar cá para sempre, por isso vou aproveitar estes momentos também para me lembrar deles, mais tarde)

Thursday, January 15, 2009

Agora que a vontade de ler não está cá e como só consigo estar em frente a um computador ou a um televisor, tenho descoberto a leitura e os escritores de outro modo. É assim que tenho consultado, mais do que nunca, o Pensador e, sobretudo, o Citador. Não é como ler um livro, eu sei, mas é uma forma rápida e interessante de contactar com muitas frases, reflexões e pensamentos, poemas dos nossos autores favoritos. Como uma versão em hipertexto de um livro de frases e pensamentos de escritores reputados. Mas aqui com variedade e quantidade maiores.
Enquanto não sentir que a concentração necessária para ler um livro está de volta, isto vai ser o seu substituto.

(Tem sido a partir dessas consultas que tenho estado em contacto, p. ex., com Clarice Lispector, Sara :)

Eternal Sunshine of the Spotless Mind



"Eternal Sunshine of the Spotless Mind", Michel Gondry, 2004

Vi este filme de novo e ainda bem. Sinto... um certo conforto, acho. Sabe bem.

Esta vida,

é muito dura
Frustração

Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.


Miguel Torga, in "Diário XV"

Wednesday, January 14, 2009


Too young to hold on
too old to just break free and run






(in "Lover, You Should've Come Over", do álbum "Grace", Jeff Buckley, 1994)

Monday, January 12, 2009

Sinto saudades

de pegar num livro e começar a lê-lo, de perder-me nele, ter esse prazer. Já nem isso consigo fazer, era das poucas coisas que me tiravam... disto, nem sei o que lhe chamar

Sunday, January 11, 2009

Ser

É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Ou pelo menos, o que me faz agir não é o que eu sinto mas o que eu digo.

Clarice Lispector, in "Perto do Coração Selvagem"

Momentos George W. Bush - Top 10

Friday, January 09, 2009

A Tirania do Medo

O nosso mundo vive demasiado sob a tirania do medo e insistir em mostrar-lhe os perigos que o ameaçam só pode conduzi-lo à apatia da desesperança. O contrário é que é preciso: criar motivos racionais de esperança, razões positivas de viver. Precisamos mais de sentimentos afirmativos do que de negativos. Se os afirmativos tomarem toda a amplitude que justifique um exame estritamente objectivo da nossa situação, os negativos desagregar-se-ão, perdendo a sua razão de ser. Mas se insistirmos em demasia nos negativos, nunca sairemos do desespero.

Bertrand Russell, in "A Última Oportunidade do Homem"

Ofensa

Com que frequência caminhei no quarto de um lado para o outro, com o desejo inconsciente que alguém me insultasse ou proferisse alguma palavra que eu pudesse interpretar como um insulto, para que eu desabafasse a minha raiva em alguém.
É uma experiência muito simples que acontece quase diariamente, e ainda para mais quando existe algum outro segredo, uma aflição no coração, para o qual se deseja dar uma expressão verbal mas que não se consegue.


Fiodor Dostoievski, in "Humilhados e Ofendidos"

Crying Boy



(Espero não ter amaldiçoado este blogue...)

Thursday, January 08, 2009

Para aliviar o peso do post anterior



Little Britain USA

Quando é que esta nova série (agora nos EUA) começa cá?

Está tudo a ficar louco

Podia falar da crise, do frio, das gripes, etc. mas se não estivessem lá, se as coisas até estivessem bem "lá fora", sentiria relativamente o mesmo. Assim apenas há menos espaço para mim no meio de tudo, como se todos se sentissem um pouco deprimidos por causa do ambiente social e eu fosse mais um.

Mas essas coisas são sobretudo aceleradores, aumentam a velocidade e intensidade do que já lá está. Eu ouço e leio sobre tudo isso.

E também ouço as conversas e todo o tipo de preocupações correntes das pessoas no trabalho, nos transportes, na rua, que passam ao lado da crise geral e se focam mais na crise pessoal, na forma como podem ser felizes e lidar com o quotidiano de modo a concretizarem o que desejam. Mas sinto-me sempre longe. Para começar com essas preocupações, primeiro teria de resolver muito da minha vida que não posso. E quando vejo alguém quase chorar por causa do/a namorado/a, exaltar-se e afligir-se por coisas que sinto serem menores em relação ao que tenho de suportar (mas que fazem parte da vida normal da média das pessoas), apetece-me gritar. Até porque quem está a ouvir compreende essas situações, naturalmente, mas se eu lhes contasse do que me vai na alma e preciso e me perturba, sentiriam distanciamento, apesar de serem coisas mais importantes. Mas como a maioria não sente essa falta, não liga tanto. E assim sinto que os outros são mimados em comparação. Parece arrogante mas é o que sinto, assim mesmo. Sinto inveja mas também desprezo. Acima de tudo, sinto-me longe.
Eles vivem a sua vida assim porque podem e eu também queria poder. E não poder custa muito, deixa-me para trás e é muito injusto. Em tempos, por isto, esta vontade frustrada, agi mal para muita gente, por isso os perdi. Porque podemos sentir que os outros são mimados, sentir inveja e desprezo, mas mesmo assim gostar muito deles e querer ser seu amigo e manter a amizade.

E depois também não suporto tanta parvoíce pegada. E quero fugir disso mas mais uma vez não tenho poder para isso. E se fujo da parvoíce no trabalho e na rua, só começo a preocupar-me a sério quando penso na que vou encontrar em casa e na melhor forma de a evitar. Não sou valorizado pelos outros como mereço e a culpa não é só minha.

Esta auto-comiseração é tudo o que não gosto de ver na atitude, na filosofia de vida de uma pessoa. Por isso tudo se torna ainda mais frustrante e humilhante. Levantar-me da cama é uma luta, como são todas as pequenas coisas - saber que tenho de ir ao Banco, ou tirar fotografias, ou tratar do Cartão de Cidadão... saber que tenho de fazer qualquer coisa dá cabo de mim de uma forma que não é normal. Também queria comprar uma camisola e uns sapatos novos nos saldos mas ainda não fui e nem sei se vou, não tenho vontade de pensar nisso. Só quero ficar fechado no meu quarto, estar na internet e ver televisão e aproveitar esse tempo para não me preocupar com o resto.
Não imaginava que estas fossem ser as "vontades" que teria por esta altura da vida quando era mais novo. Ninguém o faz. E entristecem-me. Mas eu estou muito longe...

Sinto que está tudo à minha volta a ficar louco de tão insuportável. Como sentirão as pessoas que vivem em países com ditaduras rígidas e sem expectativas de mudança, que não têm liberdade nem decisão sobre as suas vidas porque não podem, querem muito mas é como se tivessem uma bota gigante a pisar-lhes constantemente a cara.

Tuesday, January 06, 2009

When Love Breaks Down



My love and I, we work well together
But often we're apart
Absence makes the heart lose weight, yeah,
Till love breaks down, love breaks down

Oh my, oh my, have you seen the weather
The sweet September rain
Rain on me like no other
Until I drown, until I drown

When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you
When love breaks down
The lies we tell,
They only serve to fool ourselves,
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you

When love breaks down, when love breaks down

My love and I, we are boxing clever
She'll never crowd me out
Fall be free as old confetti
And paint the town, paint the town

When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurtin' you
When love breaks down
The lies we tell,
They only serve to fool ourselves,
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurtin' you
When love breaks down
You join the wrecks
Who leave their hearts for easy sex

When love breaks down, when love breaks down

"When Love Breaks Down", in Steve McQueen, Prefab Sprout, 1985

Monday, January 05, 2009

Muitas vezes,

gostava de dizer à minha Mãe que gosto muito dela e me preocupo muito com ela. Abraçá-la com força e dar-lhe um beijo na cara quando lhe acontece algo que a perturbe ou a incomode ou então só porque sim, apenas porque sou o seu filho e gosto dela.

Mas não dá.

Humor (britânico) para começar o ano



Teorias sobre peitos




Ele é fã dos maiores hits de Beethoven


THE OFFICE - Christmas Special

Friday, January 02, 2009

Sons para começar o ano



NOUVELLE VAGUE - "Sweet and Tender Hooligan"


Há algo que me incomoda nesta versão (a voz dela?) mas não consigo parar de a ouvir